As juventudes e o projeto popular


Roberta Traspadini*
O retrato da juventude brasileira evidencia além dos projetos de classe, as intenções manifestas por cada corrente tanto na concepção, quanto no que fazer apresentado a este grupo social pertencente à classe trabalhadora.
Façamos um breve exercício de entender a situação concreta deste grupo na educação, para depois, imersos nos principais elementos reflexivos, pensarmos o inédito viável deste grupo.
1. Os dados sobre juventude e educação brasileira
Segundo o documento de IPEA de 2008 "Juventude e Políticas Sociais no Brasil", a população de 15 a 29 anos corresponde a 27,4% da população total. Existem 51 milhões de brasileiras(os) nesta faixa etária.
Com relação à educação tanto em termos de acesso quanto de permanência, os dados são alarmantes para se pensar o futuro da nação.
34% da população dos 15 aos 17 anos ainda não concluíram o ensino fundamental; apenas 12,7% dos jovens de 18 a 24 anos têm acesso ao curso superior.
Além disto, 83% dos jovens de 25 a 29 anos e 66% de 15 a 17 anos deixaram de estudar. O número de idas e vindas aos bancos escolares também chamam a atenção: os que pararam somente 1 vez representam 61,6%; 2 vezes 20,1% e 3 vezes ou mais 16,7%.
Quase 70% destes jovens pensam ser possível retornar à escola, assim que as condições objetivas de sobrevivência o permitir.
Outro foco importante sobre a diversidade da juventude se refere à situação do jovem do campo e da cidade.
Enquanto nas cidades vivem 84,9% dos 51 milhões de jovens do país, no campo residem 15,1%.
Para o campo se amplia a precarização das condições de vida e os elementos como acesso, permanência e pertença jogam outros olhares sobre o debate do ser e sentir-se jovem.
A questão agrária, a posse da terra, o crédito, a agricultura familiar, o campesinato como classe e o uso da tecnologia subordinada à concepção de terra e de humano, são alguns dos temas a serem debatidos por estes jovens no seu contexto de vida específico.
O nível de escolaridade do jovem do campo é 50% inferior ao da cidade e o grau de analfabetismo chega a 9% nesta população.
2. O debate teórico sobre o tema
Em uma perspectiva crítica, falar em juventude é retomar ao menos 4 aspectos centrais que se entrelaçam.
1. A juventude como protagonista da formação de consciência. Se por um lado, são fundados valores, memórias, representações a partir do ora vivido, por outro lado, são abertas perspectivas sobre como ler o que se vive, para além do que até então se tem.
2. A juventude como historicidade. Está referido ao movimento ininterrupto de refazer-se a partir daquilo com que se encontra e para além. A historicidade demarca o terreno da ação dos sujeitos a partir da correlação de forças manifesta no cotidiano. Vai além quando o permite superar o vivido rumo a outro processo de vida a ser encarnado por ela.
3. A juventude como ser social. Aqui o centro é a disputa na produção de símbolos, códigos, imagens, de uma juventude que é formada ou para reproduzir o que já está posto na engrenagem instituída pelo modo de dominação real, ou para, questionando-o, permitir verificar o que pode ser feito para superar dito modelo.
Este conceito põe em evidêcia o individualismo apregoado como única forma possível de produção de vida, na concorrência, frente as possibilidades de relações para além do processo mercantil.
4. A juventude como consciência sobre o sentido do trabalho. Neste tema a juventude vive outras dimensões da tensão. Ou é tomada como uma mercadoria cujo preço é estipulado por quem paga, a partir da precarização intensiva de uma formação técnica para o trabalho subutilizado. Ou é tida como possibilidade de recomposição do sentido de trabalho a partir da realização e pertença do mesmo ao grupo ao qual pertence: os trabalhadores.
3. A relação entre os dados e a teoria
Com base nos dados e nos temas centrais da discussão sobre juventude podemos ver como esta categoria é complexa, heterogênea e diversificada, fazendo uma alusão à construção de Antunes sobre o sentido do trabalho.
Complexa pela relação direta entre educação e trabalho que vai promovendo a divisão social e internacional e alocando os jovens a partir do melhor uso pelo capital do saber acumulado e apreendido deste grupo.
Jovens com carteira de trabalho e sem carteira de trabalho; jovens no trabalho informal legítimo e legal; jovens no trabalho informal ilegítimo e ilegal, entre outros.
Heterogênea pela forma e o conteúdo do ser jovem a partir do recorte étnico-racial, de gênero, de regiões e de nacionalidades.
Diversificada pela explícita diferença na concepção de cultura, do sentido do trabalho, do aspecto ético-moral e da religião. Diferenças que demarcam contextualizações distintas sobre o mesmo tema dentro deste grupo.
4. A juventude e o inédito viável
O mais viável é nos referirmos à unidade do diverso da juventude, ou seja, juventudes em movimento. O inédito neste viável é a intenção de vinculá-las na disputa pelo poder a partir da construção do sentido protagonista a ser dado a este grupo dentro de um projeto popular.
As diferenças cedem espaço à diversidade em unidade e as experiências conformam um quadro comum neste mosaico de cores, flores, pedras, territórios específicos dentro de um modelo de desenvolvimento geral.
O popular vira palco da territorialidade do poder, cujo protagonismo compartilhado vai, pouco a pouco, superando as classificações e criando um novo arranjo de sociedade em cujo poder popular dê unidade ao diverso, harmonize as particularidades no todo do projeto de classe, efetive a inclusão real deste grupo na tomada de decisão rumo à implementação da sociedade que se quer.
*Economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES.
FONTE: FONAJU

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